terça-feira, 18 de março de 2014

Quando o opressor também é oprimido - pequena reflexão com a comunidade carcerária masculina

Falar sobre paternidade é mais importante do que podemos imaginar. Vai além do pequeno núcleo familiar, instala-se nas entranhas do funcionamento da sociedade de maneira venenosa.

Falei e falo e falarei de machismo, de paternalismo. Mas quero colocar aqui o homem como vítima desse sistema, também. A mulher sofre violências todos os dias. Os homens também. Afinal, quem concebeu a ideia de que o homem é superior a mulher? Homens, claro. 

Que homens são esses? 

Dentro de um grau de entendimento geral, os homens nasceram opressores. Eu, branca, de classe média, com acesso a informação e bons cursos concorrendo a uma vaga de emprego com um homem em igual condição, ele será privilegiado. E o será por vários motivos: não engravida, não tem tantos benefícios quanto eu mulher, porque é homem e homem é sempre melhor. (Por isso,também, você meu amigo, que luta pela igualdade, ás vezes, é colocado de lado. Por mais esforço que faça,você estará na minha frente em privilégios - isso só para dar um exemplo referente ao mercado de trabalho). Porém, um homem negro com as mesmas condições que a minha não terá os mesmos privilégios que eu. Um homem pobre também não.

Que homens são esses? Que opressores são esses? Nesse jogo de opressão os homens também são vítimas. Vítimas de um descaso total com a condição de vida e de sobrevivência destes. Pois, homem que é homem passa trabalho, não reclama, carrega peso, enfrenta a vida de maneira fria, sem sentimentos. Quando remetemos isso aos nossos pequenos o coração desta que vos escreve dói.

Vamos só pincelar um pouquinho. Vamos pensar na comunidade carcerária desse país. Quantos homens existem lá? Quantas mulheres? Segundo dados daqui do Ministério da Justiça, em dezembro de 2012 o total de presos, no Brasil, em regime fechado, homens era de: 204.123; de mulheres era de: 14.119. Em todos as descrições, a maioria esmagadora é de homens. Homens pobres. Homens jovens. Homens com grau de escolaridade baixo. Homens oprimidos. 
Imagem tirada daqui

Quando escrevo que os homens estão mal assessorados em benefícios nas leis e na cultura, não falo só no acolhimento no pré natal, no parto, pós parto, amamentação. Escrevo sobre todos os homens, pois vivem como se fossem onipresentes, mas não são, estão bem mal tratados.

Boa parte deste ranço que o homem carrega está na nossa cultura machista que coloca o homem como opressor, no entanto, não descreve direito quem é esse opressor, quando ele é opressor, e que esse opressor pode também ser um oprimido, um abandonado pelo nosso sistema. Afinal, homem que é homem se vira sozinho e não precisa de nada: nem de amor, nem de carinho, nem de colo, nem de afagos, nem de elogios, nem de família. Precisa de espadas de brinquedo, de brincadeiras ríspidas, de não ter medo do escuro, nem de nada, de não demonstrar sentimentos e de sempre ser superior seja lá no que for. O

Imagem daqui
Uma bela forma de criarmos homens menos rebeldes é educando-os também para que sejam ternos, doces, meigos, singelos, queridos, prestativos, seguros dos seus sentimentos. No link aqui um texto que rolou no Facebook "Se a violência masculina é a maior ameaça as mulheres como criar um filho gentil?"  que mostra a angústia de um pai ao criar seu filho menino. Apesar de sua reflexão se remeter a criar um filho não opressor a mulheres, o seu pensamento cria um ser  humano capaz de não oprimir outro ser humano. Indico essa leitura e sua reflexão sobre tantos meninos que vivem por aí, a margem, sendo opressores e oprimidos.