sexta-feira, 7 de março de 2014

Pai estável - essa luta precisa começar!

Quando uma amiga anuncia que está grávida e tenho algum contato com o pai da criança, já fico esperando a fala "estou grávido". Na minha ideia, tanto a mulher, quanto o homem, engravidam e gestam de diferentes maneiras o ser lindo que está por vir. Embora, acredite, que mesmo não existindo um bebê dentro da barriga física, está sendo gestado um pai. Um pai vai nascer. 
Começam os preparativos com o espaço da casa, quarto, fraldas, roupas. 
Começam os preparativos com a saúde, refletir sobre hábitos alimentares. 
Começam as consultas, exames. E claro, para tudo existe um custo, uma conta a ser paga. 

E quando no meio de tudo isso algo inesperado ocorre? 

O homem perde seu emprego! 

É terrível. No momento, no principal momento dessa família, que deveria ser de tranquilidade, sossego e segurança. O homem grávido - para nós enquanto sociedade - é invisível. O futuro pai é uma sombra do sol do meio dia, quase nem aparece. Essa pessoa também responsável por uma vida que está por vir não tem qualquer segurança no trabalho, nada! 

Pesquisei por alguma fonte que indicasse o número de homens que são demitidos ao descobrirem que são pais ou no processo de gestação e não encontrei. Espero ter pesquisado muito mal e estar bem errada sobre o que escreverei agora: se realmente não houver algum indício sobre isso significa também a falta de interesse sobre a situação dos homens grávidos no nosso país. 


Pesquisei no site Petição Pública , no site Abaixo Assinado e no Google se havia algum abaixo assinado, reivindicando o direito ao homem por estabilidade no emprego enquanto gestantes, só encontrei nesse site que é o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Pesquisei se havia algum movimento a favor dessa causa. NADA!


Mas, porém, todavia, existe um projeto de lei tramitando desde 1997 - oi? - que prevê a estabilidade temporária de homens com parceiras grávidas (se estendem a homens que não tenham envolvimento emocional com a futura mãe de seu/ua filho/a) por um período de doze meses - a partir da suposta concepção confirmada em laudo médico. No desenrolar do processo, alguns ajustes foram feitos (vou comentar como escrevem mal os projetos de lei, viu? Não tem assessor para isso?).  


O PL 3829/97 de autoria de Arlindo Chinaglia já passou por Comissões e o seu status agora é: aguardando liberação do recurso na mesa diretora das Câmaras dos Deputados (MESA), desde 2009. Quem sabe não precisam de pressão social para ser aprovado? Regis Oliveira na época foi contra a essa proposta, alegando -- em linhas curtas que esse beneficio fará com que mais brasileiros trabalhem na informalidade, pois já são muitos os benefícios que os trabalhadores tem, e os empregadores acabariam por optar a trabalhador sem carteira assinada. Olha o conteúdo aqui.  

E agora vem mais poréns e todavias, existe um outro projeto de lei 5936/2009 de autoria de Sabino Castelo Branco para impedir a demissão sem justa causa do cônjuge da gestante (com ele temos outros apensados PL 989/2011, PL 5787/ 2013, PL 5665/2013). O PL 5936/2009 está esperando a resposta das Comissões, veja aqui

Existe um ponto fundamental que deve ser bem esclarecido. Existem muitas reivindicações à licença paternidade ser estendida para além de cinco dias. Será uma grande vitória para a sociedade brasileira conseguir isso (vamos discutir amplamente sobre isso, aguarde), mas se não houver essa segurança para o homem no seu local de trabalho, o futuro pai corre um grande risco de nem usufruir desse direito.

E agora, quem poderá nos defender? Nós mesmos. Temos que nos organizar. Fale com seu sindicato, exija isso no acordo da sua classe. Podemos também organizar um abaixo assinado, que acham? Podemos também divulgar amplamente esses projetos de lei, explicar o que eles são e conscientizar sobre sua importância para as famílias brasileiras. Isso já pode ser feito já e agora! Quem tá comigo disposto a organizar um? 


PS. Clique nas palavras em rosa e abra o link relacionado.



quarta-feira, 5 de março de 2014

Relato de pai - Criar meninas - "Fornecedor. Ou, essa vai dar trabalho"

O primeiro relato de pai que recebi é um presentão daqueles. Esse pai, querido amigo meu, David Mattos, ativista, muito generoso e com uma linda história de vida paterna, nos brinda com suas observações acerca de ser pai de uma menina , de como quer criá-la, de que forma deseja instruí-la e prepará-la para o mundo. Compartilhamos da mesma linha de pensamento e este blog pretende estimular você ao ponto de vista por ele tão bem colocado no relato. Quem sabe para você essas palavras, essa forma de pensar em educar seja uma transmutação. Precisamos modificar nossa forma de criar nossos filhos e filhas para assim não perpetuarmos relações de desigualdade e sofrimento entre homens e mulheres. E o amor é capaz de modificar tudo. Deixo vocês com as palavras dele, respire fundo....

Fornecedor. Ou, essa vai dar trabalho.


Ela é tudo pra mim.

Absolutamente tudo.

É por ela que eu sorrio, que eu tento fazer cada dia que começa melhor do que o anterior, é por ela que eu tento ser o melhor profissional, o melhor marido, o melhor amigo, o melhor parceiro, o melhor companheiro, tudo para que eu consiga chegar perto de, ao menos para ela, eu ser o melhor pai do mundo.
Mas tem uma coisa interessante quando se é homem e de repente comunicamos que seremos pais. Primeiro, lá no comecinho, aquelas tantas congratulações pela paternidade. E então, nossa sociedade machista começa com algumas observações bastante particulares para nós homens. Especialmente de homens para homens. A maior parte dos conhecidos homens, sabe-se lá por que, te desejam que seja um menino.
Minha companheira até hoje guarda uma magoazinha de um conhecido que certa vez, quando ainda não sabíamos o sexo do nosso bebê, disse “o David merece ser pai de um filho homem”.
Não falou por mal, mas pegou mal.
Poucas semanas depois que a gravidez é anunciada e já é possível saber o sexo da criança, ao descobrirmos que é uma menina que estamos esperando, a maior parte dos conhecidos brada em tom sarcástico: “ah, virou fornecedor, hein?!”.
Quando eu e Priscilla nos descobrimos grávidos, sinceramente, não tínhamos a menor preferência pelo sexo da criança. Mas de algum modo eu sabia, e disse desde o primeiro minuto, “Será uma menina!”. A família toda apostou num menino, mas eu sabia, não sei como, mas sabia, era uma menina.
E foi.
E é!
E foi e é a maior alegria que eu já senti e sinto em cada microlhésimo (se é que existe essa unidade de medida) em toda a minha vida. É meu orgulho, é minha inspiração, é a razão pela qual eu nasci.
E minha menina está crescendo, atualmente com 8, quase 9 meses. Linda. Sei que sou suspeito para falar, mas sim, ela é linda!
E quis o destino que mesmo sem eu ou minha esposa termos olhos azuis, mesmo que ambos tenhamos cabelos castanhos escuros, nossa menina nasceu loirinha de olhos exageradamente azuis.
Resultado? Além de escutar que virei fornecedor, escuto também a frase: “essa aí vai dar trabalho, hein?!”
E eu, que já não tolerava manifestações machistas, fiquei ainda mais incomodado com o modo como o mundo vê, recebe e trata as mulheres.
Primeiro, não virei fornecedor, pois minha filha não é um produto. Ela é um ser-humano, e isso não se define pelo sexo.
Segundo, ela não vai me dar trabalho por ser loira de olhos azuis, muito menos por ser mulher.
Pensar nas experiências emocionais, amorosas, afetivas e sexuais da minha filha, definitivamente não afeta em absolutamente nada o meu sono.
Eu quero muito que ela as tenha. Tantas quantas forem necessárias para que ela se descubra, para que ela se conheça, para que ela conheça as pessoas ao seu redor.
Eu seria muito medíocre, muito pequeno se desejasse para a minha filha menos do que eu tive.
A mim, como pai, cabe apenas o papel de instruir e apoiar.
Instruí-la a respeito das escolhas, que nunca serão minhas, serão sempre única e exclusivamente dela, mas que ela saiba fazê-las de um modo que se machuque pouco. Pois machucados fazem parte da caminhada de todos nós. Todos tropeçamos, todos caímos e todos levantamos. Eu quero apenas ser a mão que ela confiará pegar para se levantar.
Apoiar para que ela não se sinta desacreditada da vida, das pessoas e, principalmente, do amor. Ela vai sofrer, com certeza. Tanto quanto eu, tu, ele, nós, vós, eles, todos sofremos em algum momento. Ela vai ter amores eternos que terminarão abruptamente. Ela terá amizades despretensiosas que talvez se tornem amores sinceros. Ela terá amores despretensiosos que se tornarão amizades sinceras.
Não me tira o sono saber que um dia a minha menina que hoje tem pouco mais de 8 meses estará transando com um cara que eu não conheço ainda. Eu só espero que ele a respeite, que tudo o que tiverem vontade de fazer seja consensual, e que ele a faça gozar.
Talvez você ache isso forte. Talvez você ache isso desleixo de um pai.
Mas sim, eu quero que minha filha goze e goze muito. Por que gozar é bom, eu sei, você sabe, e se não sabe, talvez devesse reconsiderar seu parceiro(a). E por ser bom, eu desejo para minha filha.
Eu desejo apenas que seus futuros parceiros, sejam eles homens ou mulheres, a respeitem. Desejo que seus futuros parceiros não sejam possessivos, ciumentos ou agressivos. Ela não merece.
Meu papel para instruir minha filha nesse sentido, é respeitando minha companheira Priscilla, mãe da minha pequena Clara. É fazer com que ela tenha em casa o exemplo de um relacionamento sadio, onde a soma de duas pessoas não anule suas individualidades, e que o respeito o carinho e o amor pautem todo o cotidiano.
E não me preocupa quantos parceiros ela virá a ter. Do mesmo modo que para mim não fez a menor diferença quantos parceiros teve a minha esposa antes de mim. Desde que as experiências que ela vivenciar decorram das escolhas da minha filha, ELA decide. Ela terá sempre o meu apoio.
Se ela precisar se casar 10, 20, 30 vezes para descobrir o seu verdadeiro amor, por 10, 20, 30 ou quantas vezes forem, eu estarei lá ao lado dela. Se ela desejar que em cada uma destas tantas vezes eu entre com ela na cerimônia de celebração da união, eu entrarei em cada uma delas sorrindo. Só não garanto que não chorarei, pois quando ela é o centro, a emoção em mim transborda.
E se ela algum dia descobrir que sua felicidade é viver sozinha, também terá o meu apoio. Pois a mim não cabe decidir por ela o que é felicidade. A felicidade é a alma gêmea de cada um de nós, e apenas cada um de nós poderá reconhecê-la na sua exata forma, seja ela qual for, seja ela com quem for.
Não, minha filha não me dará trabalho por suas escolhas amorosas. E por mais que eu saiba que vá ficar revoltado e puto da cara quando encontrá-la chorando por seja lá quem for que tiver magoado seus sentimentos, só espero que ela reconheça no meu abraço o conforto que aquele momento pedir.
Viva, Clarinha. Viva todas as experiências possíveis. A vida é linda e muito prazerosa, desfrute dos seus prazeres. Com responsabilidade, lógico, mas não permita jamais que alguém pode suas vontades, seus desejos pelo fato de teres nascido mulher.
Um dia ainda sei que conversaremos sobre isso que estou escrevendo, por enquanto brinque com sua bola, com seus brinquedos, com nossos gatinhos e cachorro, se divirta. E que cada fase da sua vida te traga no rosto o mesmo sorriso que essa tua rotina de bebê hoje te traz.

E quando precisar, pode vir aqui com o papai, meu colinho sempre estará pronto pra te receber!

Quer saber mais sobre a história desse pai? Clique aqui relato dele e de outros pais divulgados no site "Cientista que virou mãe", da maravilhosa Lígia Moreiras Sena. Quer conhecer o blog de David Mattos? Clique aqui.

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