domingo, 6 de abril de 2014

Quando o pai acompanha o trabalho de parto, parto e pós parto. Uma discussão ou duas aqui.

É um assunto difícil, controverso, inverso.

Vou tratar aqui hoje o modelo tradicional de família: homem e mulher com relação de afetividade estabelecida e bebê - logo, pai e mãe de uma criança.

Quando a mulher está em trabalho de parto, durante o parto e após o parto tem direito a apenas uma pessoa como acompanhante. O que ela escolher. O que ela decidir. O que ela se sentir mais a vontade. Direito previsto pela legislação - lei número 11.108 de 7 de abril de 2005. Direito de quem? Da mulher.

Pausa: direito este negado a muitas mulheres. Foi até criada outra lei que obriga os hospitais e maternidades a fixarem em local acessível a vista das pessoas a lei do acompanhante. Essa negação constitui-se em violência obstétrica. Se você foi vítima dessa negligência, entre em contato comigo, saiba que o local pode ser processado.

Continua:
E se por algum motivo a mulher que tem um bom relacionamento com seu marido/namorado/parceiro/conjuge escolher outra pessoa que não este pai para acompanha-la como fica? Este homem não tem direito algum, lei alguma que assegure sua presença durante o nascimento de sua criança.

Pois é! Assunto para refletir. Estaria esse homem sofrendo alguma forma de violência também?

Estudos apontam que quando o pai é o acompanhante da mãe no período pré, parto e pós parto os resultados são positivos. Um deles, realizado em 2011, com 24 pais que utilizaram o SUS - link aqui - em Porto Alegre, pelas pesquisadoras Fernanda Rosa Indriunas Perdomini e Ana Lucia de Lourenzi  Bounilha.

Essa pesquisa mostra a consciência dos homens (pais) envolvidos no processo de trabalho de parto e parto. Eles entenderam sua presença como um apoio, uma segurança, uma forma de não deixar a mulher sozinha, mesmo que não tenham feito nada fisicamente, apenas no âmbito emocional, sentiram que sua presença poderia diminuir os riscos de complicação no parto.

Imagem retirada daqui.


Alguns homens no acompanhamento do trabalho de parto preferiram ficar em silêncio, se mostrando até alheio ao que estava ocorrendo, no caso, a mulher com dores. Ficavam sentados, ouvindo música com fones, mexendo no celular. Justificam essa atitude, por não saberem o que fazer nesse momento, então preferiram ficar quietos para não atrapalhar a mulher- porém se sentiram participantes desse processo.

Outros pais já ajudaram mais ativamente auxiliando para o alívio da sensação das contrações - bola  e banho, por exemplo. Outros escolheram a fala, a conversa para ajudar a mulher. Os pais em geral davam outro tipo de apoio como o toque nas mãos, beijos, afagos, expressões carinhosas para a mulher.

Perto do expulsivo (quando o bebê está para sair do útero pela vagina) os homens se sentiram poderosos. Embora alguns ficassem assustados, a medida que a mulher ia se aproximando do expulsivo a coragem deles também aumentava. Falam palavras de apoio, fazem carinho,consolam, encorajam.

Frente a experiência os pais retratam um cansaço, alguns lembram com grande alegria, sentimentos de impotência e potência se mesclassem durante os vários momentos entre o trabalho de parto e expulsivo.

Importante salientar que esses homens foram pegos de surpresa, não sabiam que poderiam acompanhar a mulher. Um dos pontos mais interessantes dessa pesquisa é o relato que os pais se sentiram muito mais vinculados a criança que nasceu participando do processo. Embora cada um tenha se inserido nesse meio de uma forma diferente essa sensação de pertencer aquele momento, daquela criança ser sua é o sentimento que vigora.

Comecei o texto com uma pergunta: teria o homem direito de assistir ao parto, de perder o status de acompanhante e estar ali naquele momento? Pois pesquisas mostram que o vínculo entre pai e criança é favorecido com o contato desde o primeiro momento. A mulher precisa se sentir segura nesse momento. Seria o homem, mesmo que não um afeto no momento uma figura desestabilizadora para a mãe? Seria uma figura que lhe daria segurança?

Foto utilizada para divulgação do documentário "O Renascimento do Parto" 

Vou falar aqui sobre o meu primeiro parto. Quando tive meu primeiro filho não estava afetivamente ligada ao pai dele. Na época julgava até que não fosse importante sua presença. Pensei em não avisar, só falar depois do nascimento. Eis que ele me envia uma mensagem no celular e aviso: estou em trabalho de parto, vem pra cá! Confesso que fiquei bem feliz e mais segura sabendo que ele estava ali. Meu parto foi normal e ele assistiu o expulsivo, pegou no colo, deu o primeiro, segundo e terceiro banho. Acompanhou nas vacinhas, foi o primeiro a trocar as fraldas. Acredito que esse processo foi muito importante para que ele ficasse tão ligado ao filho, como é hoje, por conta dessa participação. Creio que seria muito estranho eu cobrar uma participação efetiva e afetiva na vida do nosso filho, se o tivesse descartado desse processo. Nós como adultos devemos ser coerentes com aquilo que escolhemos. Se queremos que o homem seja verdadeiramente ativo na crianção dos filhos e filhas devemos oportunizar e legalizar essa presença em todos os estágios.

No caso, se estar vinculada afetivamente ao pai da criança ter que escolher uma pessoa que possa de alguma forma excluir o pai é bem complicado. Eu penso que devamos lutar por um direito ampliado no qual o pai e mãe tenham direito a um acompanhante de escolha da mãe. 

Todavia, informar a gestante que ela tem o direito a um acompanhante durante todo o processo de trabalho, parto e pós durante as consultas de pré natal é mais que importante. Para que esse/a acompanhante vá emponderado/a também, assistindo e auxiliando a mulher no que ela precisar e quiser.

Gostaria de saber sua opinião sobre isso. 



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