segunda-feira, 28 de abril de 2014

Caso Bernardo - Um grito à paternidade ativa ou uma sociedade ativa?

O caso Bernardo está lotando os meios de comunicação - como não vejo televisão - posso dizer pelos sites. O ocorrido chama a atenção por sua crueldade, mas aqui não irei debater sobre isso, você pode saciar sua sede de sangue em outro lugar. Vou te convidar a refletir comigo sobre o que sempre apresento nesse blog: a importância da paternidade. Não sei se para filhos e filhas, mas para o homem.

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O que afinal faz um pai? O que se espera de um homem que tem filhos e filhas - ou um filho e/ou uma filha? Qual é o papel dessa pessoa? A sociedade ainda tem aquele velho conceito de que apenas a mulher deve se responsabilizar pelos cuidados com as crianças, tanto da alimentação, higiene e saúde, quanto do lado emocional. Ao homem espera que ele provenha à casa, pague as contas e proteja a família.

Quando o pai e a mãe se separam ou são solteiros a mulher quase automaticamente tem a guarda da criança. Cabe ao homem, em uma grande maioria dos casos, visitas quinzenais ou semanais, podendo ou não pernoitar. O cotidiano escolar e outras atividades são acompanhadas como por esse pai? 

Com esse quadro (que está mudando, como sempre relato, seja por aqui ou pela fanpage, porém é lenta) quando a mãe se ausenta, como esse homem irá assumir as responsabilidades que antes cabiam a mulher? Afinal, a vida desse homem era construída para materialmente ter condições de dar a sua família conforto e segurança.

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O caso Bernardo grita nos nossos ouvidos! É um grito, um berro alto, longo e dolorido. Talvez, você possa estar um pouco zonzo com tanto sangue e julgamentos mil que não tenha percebido isso. Limpe sua mente e ouça. Ouça esse menino gritando por um pai presente. Ouça esse e tantos Bernardos que existem por aí. Esse é um caso além do sangue e das atrocidades. É um caso que diz respeito a toda sociedade e o papel que ela impõe ao homem.

Como professora é comum, quando o pai e mãe de algum estudante se separam, ouvir: o homem se separou da mulher e de seus/uas filhos/as. Quando esse homem assume um novo relacionamento é como se qualquer vestígio do relacionamento anterior tivesse que sumir, incluindo as crianças. Penso, será que foi isso que aconteceu com o pai do Bernardo? Quando Bernardo era criado junto a mãe esse homem era carinhoso e se tornou diferente quando criado com a madrasta. Não li nada como se relacionava com a filha que tem com a atual esposa. Será que era ausente? Será que pensava - o pai do Bernardo, que este sendo menino não havia problema em ser "criado solto", afinal, a sociedade cobra uma dura educação aos rapazes, pois homens precisam ser emocionalmente frios. Será que por isso não se ocupava tanto do menino, para este se tornar "um homem de verdade"?

O pai do Bernardo não é infelizmente uma exceção no que diz respeito a negligência, a falta de amor, de carinho, de acolhimento. Infelizmente existem muitas crianças sendo negligenciadas por aqueles que deveriam lhe dar amor. Quantas você conhece? O que você faz em relação a isso? Acha justo? É triste saber que um menino de 11 anos implorava por atenção e até pediu uma nova família, né? Mas quantos Bernardos existem perto de você? Pergunto de novo: o que você faz em relação a isso? Há algo que pode ser feito?

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Sim, existe. O que podemos fazer enquanto sociedade é primeiro não considerar natural que o homem abandone seus filhos ou filhas.  Segundo é ouvir o que as crianças tem a dizer, levá-las a sério. Terceiro é urgentemente fiscalizar os órgãos que deveriam cuidar das crianças. Negligência e falta de amor é mau trato. E denunciar ao Conselho Tutelar.

Uma pesquisa revela que a  maioria dos casos de agressão a crianças vem justamente de seus pais e mães, tanto no que diz repeito a espancamento quanto a negligência da higiene e saúde dos filhos e/ou filhas. Ou seja, se o caso Bernardo choca pelo seu fim, entristece o abandono pelo qual passou na sua curta vida. E isso é uma realidade de muitas, muitas crianças mesmo.

Voltando as perguntas dos dois parágrafos anteriores há mais que pode ser feita além do sugerido. Está acontecendo uma discussão na Câmara para que denúncias de maus tratos a crianças tenham mais peso. O projeto prevê também mudanças na formação dos conselheiros tutelares e a pressão é para que seja votado antes da Copa. Você já sabe o que deve fazer, né?

Não sei o que levou o pai do Bernardo a ser negligente com o filho, mas posso dizer que a cultura que vivemos é um influenciador em potencial para que casos de Bernardos ocorram, todos os dias, a todo o momento. Ainda não há provas concretas sobre o envolvimento do pai do garoto no assassinato. E sinceramente torço para que não tenha - essa morte dita matada. Para que ele consiga cuidar de sua filha, ter uma segunda chance após tantas tragédias. Espero e torço por isso!

Que esse grito seja ouvido por todos nós.


Sobre a pesquisa de maus tratos aqui.
Sobre a o PL 7746/14 - aqui.




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